terça-feira, 1 de março de 2011

TEOMANIA

Teomania (soberba):
A principal causa
Dos males humanos

Por

Marcos Andrade[1]


Temos de admitir que os problemas mais agudos da humanidade ainda não foram cuidados; sou de opinião que o ser humano está demorando muito para colocar o dedo em suas feridas mais dolorosas; e elas são: sua mania em querer ser Deus, sua empáfia e arrogância. Parece que este campo foi reservado ao cientista da psicopatologia, por absoluta necessidade da experimentação.

O maior problema do homem não são os erros que comete, mas o seu desejo de ser perfeito, de preferência outro deus (teomania); esta é a fonte de todos os males que a humanidade vem passando, desde que Adão e Eva “renunciaram” a sua condição humana e, de maneira muito sutil, atribuímos-lhes as falhas que cometemos. Por esse motivo toda organização social visa à repressão aos erros e jamais à conscientização da arrogância, megalomania e soberba. Fizemos uma sociedade baseada na nossa fantasia, para tentar viver na ilusão.
            Se verificarmos as organizações sociais, políticas, econômicas, cientificas, religiosas, filosóficas, verificaremos que todas elas têm um só fito: a egolatria do ser humano. Neste, podemos afirmar com certeza que toda estrutura social tem base falsa, exatamente o contrário do que deveria ter sido feito. E tal fenômeno invadiu  todas as áreas, inclusive a da psicoterapia.
            Quando um analista trilógico atende o seu cliente, procura torná-lo consciente dos erros que comete denominado de psicopatologia, para corrigi-los, porque a intenção de esconder tal percepção é justamente a causa de todos os problemas, pois o homem procura de toda maneira parecer perfeito, incentivando a sua megalomania; a conclusão a que podemos chegar é que o campo tradicional freudiano da psicoterapia em geral colocou como fito principal (à semelhança de todas as outras finalidades humanas) a realização “suprema” da aspiração do homem: “ser um deus perfeito”.
            Todo sofrimento em nossa existência é proveniente do afastamento do Criador; não existe outro, pois tal atitude constitui uma rejeição á vida, à realidade e à beleza que formam nossa estrutura fundamental. Por exemplo: sempre pensamos que temos a vida dentro de nós e não que estejamos dentro da vida – em uma idéia teomânica de doadores da existência. Esta maneira de pensar leva-nos a uma terrível tensão, causa das doenças, envelhecimento e perecimento rápido.
            Quando se fala que deus tem todo o poder para realizar qualquer coisa, e deparamos com a incrível agressão que os seres humanos fizeram a Cristo, pensamos que tal fato poderia ter sido evitado por Ele; mas, como concedeu total liberdade ao homem, não poderia ter tomado outra atitude senão agüentar essa conduta – estou dizendo que o Criador quis, inclusive, suportar a liberdade total. Tendo se tornado também um homem, sabia exatamente qual seria seu destino, e como seu amor era absoluto, aceitou o terrível martírio de sua paixão e morte.
            O próprio cristianismo foi desde o seu início ensinado de maneira invertida; Cristo realizou e falou de um modo, e os seus seguidores imediatos realizaram e disseram muitas vezes o contrário, mesmo que muitos deles tivessem sido santos. O mestre dos mestres indignava-se com a atitude hipócrita dos fariseus (Mt-23) e os combatia veementemente; os cristãos posteriores irritavam-se com a chamada concupiscência, reduzindo toda a sua pregação ao combate do chamado materialismo. É evidente que a verdadeira idéia cristã foi totalmente distorcida, passando-se a dar atenção a um fator secundário e olvidando o mais importante, que é a soberba e a megalomania; a instituição cristã foi eivada com um espírito negro, ao combater um fator, contra o qual era quase desnecessário lutar. E o resultado foi a preservação do paganismo, em uma pretensa sociedade espiritualizada que até hoje é injusta e hipócrita, sejam os leigos, os militares e os chamados funcionários religiosos.
            Toda vez que se dá uma importância muito alta ao erotismo, ele cresce na vida de uma pessoa ou da sociedade, apagando toda consciência que deveria estar voltada pelos elementos mais fundamentais da vida; na própria análise individual, se o psicanalista quiser tratar o sexo, pelo sexo, a gula, pela gula, só aumentará o desejo fisiológico, desde que os elementos físicos servem de esconderijo para a inveja, o ódio e a soberba.
            A idéia de se procurar o que fazer para corrigir o que somos, é inteiramente invertida porque tudo o que fizermos já é a manifestação do temos; de maneira que devemos sempre procurar ver em nossa conduta o que há de errado, porque o que é certo está também lá, na base. A pessoa que deseja ver-se perfeita quer ser um deus, enquanto que o indivíduo que aceita olhar as suas imperfeições, admite-se como um ser humano e acata sua condição de dependência á realidade.
            Quem é dominado pela sua arrogância, é dominado pelas pessoas mais arrogantes e a pessoa dominada pela arrogância é dominada pelo artificialismo. A humanidade sofre e luta porque renunciou á situação de felicidade que tinha no começo de sua criação; podemos afirmar que todo o esforço que temos de realizar agora é no sentido de voltar á situação antiga que tínhamos – e só depois partir para todo o desenvolvimento na área cientifica e social que já deveríamos ter realizado. Estou dizendo que no momento temos de entrar em contato com todos os erros que cometemos, para que possamos iniciar a jornada para a qual fomos criados.
             

[1] O autor é bacharel em teologia pelo (ICEC) Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos, além de especialista em escatologia, angelologia e aconselhamento pastoral pelo Ide Missões

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