domingo, 19 de setembro de 2010

Exegese do Salmo 1


SL-1:3


      Este foi um trabalho que apresentei no primeiro semestre da faculdade, é uma exegese do salmo 1, ficou bem legal, a foto postada acima é para identificar o ponto chave da minha interpretação, leia que você irá entender. Mais do que um trabalho acadêmico tive como objetivo tirar algo relevante para os nossos dias. Espero que goste. Que Deus ilumine nossas mentes.


INTRODUÇÃO

            Escolhi o salmo 1, por ser à porta de entrada para todo o livro dos salmos, ele serve como introdução, ele contrasta dois tipos de pessoas do ponto de vista de Deus.
Estes dois tipos de pessoas são: os justos e os injustos, tendo cada tipo um conjunto distintivo de princípios de vida.
            Os justos são caracterizados, pelo amor, pela retidão, pela obediência a lei do Senhor e pela separação do mundo, ou seja, do sistema mundial,
            Os injustos, que representam o modo de ser e as ideias do mundo, que não permanece na palavra de Deus, que o salmo em questão identifica como a lei do Senhor, e por isso não tem parte na assembleia do povo de Deus.
            Deus conhece e abençoa o justo, mas o injusto não tem parte no reino de Deus, e isso me chama muito a atenção, porque a separação entre estes dois grupos existirá no decurso da história e da redenção e isto me leva a uma profunda reflexão, faço um exame de consciência, revejo meus conceitos, meus princípios, para ver se os meus atos, meus caminhos, estão me levando para o grupo dos justos ou dos injustos e dependendo para onde estou indo, ou seja, para que grupo estou  caminhando, sou forçado a tomar uma decisão.  
            Este trabalho pretende ser uma interpretação bíblica sobre o salmo 1, para tais propósitos irei utilizar ferramentas exegéticas, elas nos ajudam a conhecer o texto na sua forma e conteúdo. Abordarei os seguintes itens: tradução do texto, data, lugar, autoria, gênero literário, forma e poesia, finalmente assunto de interpretação. Além do mais fornecerei uma conclusão que possa ter relevância em nossa atualidade.

SALMO 1
           
            1. Texto:
1 Feliz o homem
   Que não vai ao conselho dos injustos,
   não para no caminho dos pecadores,
   nem se assenta na roda dos zombadores.
2 Pelo contrário:
   Seu prazer está na lei de Javé,
   E medita sua lei dia e noite.
3 Ele é como árvore
   Plantada junto d’água corrente:
   dá fruto no tempo devido,
   e suas folhas nunca murcham.
   Tudo que ele faz é bem-sucedido.

4 Não são assim os injustos! Não são assim!
   Pelo contrário:
   São como a palha que o vento arrebata...

5 Por isso os injustos não ficarão de pé no julgamento,
   Nem os pecadores na assembleia dos jutos.
6 Porque Javé conhece o caminho dos justos,
   Enquanto o caminho dos injustos perece.

 2. Data, lugar e autoria:
a) Data: O (v.5) fala na congregação dos justos, que pode ser uma referência ao templo de Jerusalém, com base nesta referência pode-se datar este salmo na época pré-exílica, pois o templo ainda não havia sido destruído pelos babilônios em 586 a.C.
b) Lugar: [1]Parece haver neste salmo um conflito por causa da terra, aquilo que costumamos chamar de conflito cidade x campo. De fato as duas imagens usadas são tiradas da roça; árvore plantada junto ao córrego e que produz, e palha que o vento arrebata para fora da eira. O criador do Salmo 1 era, provavelmente, alguém ligado à luta dos camponeses contra a exploração dos grandes. Ou, ainda, esse salmo nasceu em ambiente camponês em tempos de latifundiários gananciosos.
c) Autoria: Desconhecida, pois o texto não dá informações sobre seu autor.

 3. Gênero literário:
            O Salmo 1 é do tipo sapiencial. Pois ele fala do sentido da vida, questões existenciais, felicidade, ilusão das coisas terrenas, nos leva a refletir e a dar um sentido a tudo que fazemos, temos e somos.


4. Forma e poesia:
Cabeçalho
A felicidade dos justos e o castigo dos injustos
Frase principal: (v.1a) Feliz o homem.
1ª Estrofe: (v.1b - v.3) A felicidade dos justos.
2ª Estrofe: (v.4 - v.6) O castigo dos injustos.
            Assuntos da 1ª estrofe: não vai, não para, nem se assenta, seu prazer, lei, nela medita dia e noite, árvore plantada, água, fruto, folha, bem-sucedido.
            Assuntos da 2ª estrofe: palha, vento, arrebata, injustos não ficarão de pé, julgamento, pecadores, assembleia dos justos, Javé conhece, justos e injustos.


 5. Assuntos de interpretação:

            5.1- Feliz o homem: (v.1).
            Também pode ser traduzido por bem-aventurado ou ditoso, o termo no original hebraico é (ashrey), Aqui o salmista mostra algo muito importante, que feliz ou bem-aventurado será aquele que cumprir as três coisas enumeradas pelo salmista; que são três não:
a) Não vai: no hebraico o verbo usado é (halakh), caminhar, ir, andar, passear. Este verbo está no passado e pode ser traduzido assim: feliz aquele que não andou, isso dá um sentido mais profundo à frase, pois a idéia do salmista é enfocar não só aquilo que está acontecendo, mas também aquilo que já aconteceu, tornando a delimitação mais abrangente.
            O conselho, aqui o vocábulo hebraico é (ats’at) que significa conselho parecer, e a palavra usada para injusto é (reshaim) que também pode ser traduzido por ímpio vem do radical (rashe’a) que dá a idéia de: condenar-se, ser mal, por tanto o salmista quer dizer, que o injusto ou ímpio é aquele que condena a si mesmo em algo, mesmo sabendo que aquilo que ele está fazendo é errado. O conselho dos injustos ou ímpios para o salmista é a comunhão com o sistema mundial, com as trevas, com aqueles que conscientemente caminham para a destruição.
b) Não pára: O verbo usado aqui pelo salmista é (‘amad) também está no pretérito e significa: parar, estacionar, e leva a uma ação consumada. A tradução ficaria não parou, aqui o salmista faz um paralelismo com a frase não andoudando o mesmo sentido daquilo que já foi consumado.
            O caminho dos pecadores no hebraico o vocábulo é (hatã), que vem do verbo de mesma grafia, que quer dizer: errar. Quando o salmista refere-se ao caminho dos pecadores ele tem em mente o caminho daqueles que estão em erros ou errados, estão em pecados, estão desviados do alvo que é o termo teológico para a definição de pecado. O alerta do salmista aqui é para o justo tomar o cuidado para estacionar, ou parar neste caminho.
c) Nem se assenta: aqui o verbo hebraico é (yashav), que significa: sentar-se, permanecer, habitar. O salmista usa o mesmo tempo do verbo, ou seja, no passado e a tradução ficaria assim: não se assentou, transmitindo a mesma idéia daquilo que já aconteceu. A roda dos zombadores, no original os vocábulos são os seguintes: roda (moshav), que quer dizer: assentamento, vila e para zombadores temos (letsym), que significa: fúteis, volúveis, palhaços, perversos, escarnecedores, no original da à seguinte idéia: estão escarnecendo, estão sendo fúteis, estão sendo volúveis.
            5.2- Características do justo: (v.2).
            Aqui o salmista mostra duas características do justo, que são: o seu prazer e o seu meditar.
a) O seu prazer: a palavra usada aqui é (heféts), que significa desejo, anelo. O verso diz: o seu prazer está na lei de Javé, o salmista aqui faz uma alusão à lei dada ao povo judeu através de Moisés, pois o maior prazer que o judeu fiel tinha, era estar junto da sua toráh. Uma das primeiras coisas que uma criança judia aprendia ara o shemá”.
SHEMÁ ISRAEL                                 OUVE ISRAEL
                    ADONAI ELOHEINU                         O SENHOR NOSSO DEUS
       ADONAI ACHAD                                É ÚNICO SENHOR
(Dt-6:4)                                          (Dt-6:4)
            Os pais quando estavam ensinando a toráh para seus filhos e eles aprendiam, os pais davam mel para eles. Desse modo, eles associavam que a palavra de deus era doce como o mel (Sl-119:103). Assim eles tinham prazer em aprender a lei de Javé.
b) O meditar: o verbo hebraico usado aqui é (hagah), que significa: falar, expressar, pensar meditar. O texto diz e medita sua lei dia e noite, é notável percebermos o amplo sentido deste verbo. O salmista está afirmando que Javé abençoa o servo que medita (exame interior) , fala, pensa, estuda a sua palavra de dia e de noite. A expressão dia e noite além de especificar um período de tempo, pode caracterizar tipologicamente, luta e vitória (Sl-30:5b). O choro pode durar uma noite, mas, a alegria vem pela manhã, neste caso a ficaria assim: “o choro pode durar uma noite (luta), mas a alegria vem pela manhã (vitória)”.
            O salmista está dizendo que tem vitória aquele que medita na lei de Javé quando está bem (dia), mas também medita quando tudo está mal (noite).
            [2]O justo sofre assédio, cerco e zombaria por parte dos injustos. Mas se mantém firme na escuta e meditação da lei de Javé.


 5.3- O justo como uma árvore: (v.3).
            O salmista compara o justo com uma árvore e dá a esta árvore quatro características, que são:
a) Plantada: o verbo está no particípio e dar-se a entender que Javé é quem plantou, e que Javé é o responsável pelo cuidado desta árvore dando-lhe todo nutriente necessário, para a sua existência.
b) Junto d’água corrente: a palavra hebraica usada aqui para corrente é (peleg), que também pode significar facção ou à parte. Plantada junto d’água corrente parece que o salmista está fazendo uma alusão às escrituras, ou está se referindo literalmente a um rio, mas na verdade ele está se referindo ao mundo (sistema), os injustos, e está árvore (homem ou mulher) foi plantada numa facção (peleg) à parte, separada das águas (alusão ao mundo, sistema), ou seja, a obra de Deus constitui-se numa facção, uma parte de homens e mulheres que tomaram outro rumo a seguir, o salmista desvincula totalmente o justo do injusto.
c) Dá fruto no tempo devido: no original o verbo é (Natan), que significa: dar, colocar. O salmista parece ser um homem do campo e está sendo oprimido por alguém que ele chama de injusto, e faz um retrato perfeito do justo, que dirigido por Javé, não dá fruto fora da hora, mas no tempo determinado, na estação própria, ou seja, o salmista está tranqüilo porque no momento certo ele, isto é, sua terra dará seus frutos.
d) Suas folhas nunca murcham: o verbo usado aqui é (navel), que significa: murchar, fenecer, secar. Além de ser uma árvore que só dá fruto na estação própria, o justo é também tipo de uma árvore cuja folha não murcha ou seca, o salmista está dizendo que esta árvore não sente mudança de tempo. Tem épocas do ano que as árvores perdem suas folhas, em Israel isso acontecia no início do inverno, a figueira, ficava totalmente sem folhas, o salmista dá entender que o justo não sente essa mudança de tempo e ainda tudo o que ele faz é bem-sucedido, o verbo usado para bem-sucedido é (tsalakh), que significa: prosperar, triunfar, atravessar. O salmista está dizendo que o justo terá êxito, triunfará e atravessará por qualquer adversidade.  
  
 5.4- Não são assim os injustos: (v.4).
             Injustos que pode ser traduzido por ímpios, quer dizer: que não tem fé, incrédulo, que pratica impiedade, que não pratica a justiça. O salmista aqui dá dois exemplos de como são os injustos.
a) São como a palha: esta palavra no hebraico é (mots), que significa: palha cortada em pedaços, escória de cereais. João Ferreira de Almeida edição RC. 1995; traduziu esta palavra por moinha. Se o injusto é como a palha, o salmista está dizendo que é um ser leve, sem consciência espiritual, vazio, verdadeiro dejeto humano, largado as suas próprias sortes, a moinha, segundo o dicionário Aurélio é, fragmentos miúdos de palha que ficam depois da debulha de cereais, (cascas de grãos vazias).
b) Que o vento arrebata: o verbo usado aqui é (nadaf), que significa: dispersar, espalhar. O verbo está no futuro, indicando uma ação que ainda ocorrerá, o salmista está dizendo que o vento irá soprar nestas cascas de grãos vazias (os injustos) e os espalhará. A palavra vento no hebraico é a mesma usada para o Espírito (ruach), que quer dizer: vento, sopro, espírito, aqui o salmista dá a entender que o próprio Deus é quem os espalhará.


5.5- Dois futuros: (v.5).
            Aqui o salmista faz uma analogia a dois futuros, um para os injustos e outro para os pecadores fazendo um paralelismo entre si.
a) O futuro dos injustos: “não ficarão de pé no julgamento” no orinal hebraico o verbo é (kum), que quer dizer: levantar-se, rebelar-se, resistir. Aqui o salmista dá a entender que o injusto não poderá ao menos se levantar no dia do juízo, pois Javé não os permitirá.
b) O futuro dos pecadores: “não subsistirão na assembléia dos justos” a palavra para assembléia no hebraico é (odat), e é oriunda do verbo que significa “adornar”. O salmista está dizendo que os pecadores não irão compor o adorno, jóia dos justos (figura da salvação, promessas, dons, etc). Sendo assim o salmista diz que não serão reconhecidos por Javé e serão espalhados pelo horizonte a fora.


 5.6- Dois caminhos: (v.6).
            Semelhante ao versículo anterior, o salmista faz o mesmo jogo de palavras usando sendo que agora para dois caminhos, fazendo paralelismos semelhantes.
a) O caminho dos justos: este caminho é conhecido por javé, o salmista está dizendo que por onde o justo passa Javé tem cuidado dele, que é conhecedor de cada passo, de cada atitude tomada e este caminho conduz à paz, a alegria e a salvação.
b) O caminho dos injustos: conduz à ruína, o verbo usado no original é (avad), que quer dizer: “perder-se”, errar, perecer, sumir, deste verbo deriva-se apalavra “abadom” que quer dizer: “destruição”. Nisto o salmista está dizendo que o caminho do injusto conduz a perdição e a destruição.

BÍBLIOGRAFIA

BORTOLINI, José. Conhecer e rezar os salmos. São Paulo, Paulus 2000.
CALVINO, João. Comentário de salmos. Editora Fiel.
KIDNER, Derek. Comentário de salmos. Edições Vida Nova.


[1] BORTOLINI, José. Conhecer e rezar os salmos, São Paulo, Paulus 2000 pg. 20.
[2] BORTOLINI, José. Conhecer e rezar os salmos, São Paulo, Paulus, 2000 pg. 21.






25 comentários:

  1. gostei envia sobre outras passagens

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  2. Excelente, caso tenha mais, se puder publique-os.

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  3. Fiquei maravilhado com a interpretação. Deus continue abençoando ao autor.

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  4. puxaaaaaaa que maravilhosoooooooo, fui muito edificado, muito obrigado por compartilhar algo tão precioso.
    Muito grato por sua vida.
    Daniel

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  5. Sem palavras. Que o Deus responsável por nossas vidas.te conceda sabedoria mais e mais em nome de Jesus.

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  6. Parabens Deus abençeo sua vida sempre.

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  7. Muito boa a revelação da palavra, que o SENHOR continue te abençoando.

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  8. Quero parabenizar pela exposição muito edificante. Só queria fazer uma observação quanto as características do justo como árvore plantada junto às correntes. Pareceu-me uma certa contradição.

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  9. Parabéns, muito boa sua dissertação, trouxe luz pra minha ilustração

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  10. Eu gostei muito que o eterno continue abençoano vista grandemente paz

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  11. Excelente
    Completou a minha pesquisa,parab par.

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  12. Parabéns, muito interessante não sabia que os pais judeus davam mel aos filhos que aprendiam o toráh.

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  13. Parabéns , abriu um leque espiritual em minha mente .
    Obrigado .

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  14. Que Deus sempre seja engrandecido em tudo o que fazemos, que tudo seja pela motivação certa, a glória de dele. Parabéns. Estou com um trabalho para apresentar e o seu irá acrescentar. Que Adonai continue te abençoando.

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  15. Muito boa sua explanação. Edificante e esclarecedora, continue com mais, isso faz bem para ambos os lados.

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  16. Excelente! Parabéns, muito edificante.

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  17. Excelente,vai me ajudar muito na minha caminhada.

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  18. muito Edificante ,que Deus soberano continue te iluminando pelo Deus Espirito Santo.

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